Drills Não Desenvolvem Habilidades – O principal mito dentro da Cultura do Futebol Americano

Atletas e Coaches de Linha Ofensiva constantemente estão buscando maneiras de investir o
seu tempo para “se tornarem melhores”. Desde a concepção do Futebol Americano, o “drill”
tem sido o elemento básico da construção de uma cultura. Mas o fato é que a percepção de
quais drills utilizar e quais objetivos eles supostamente devem alcançar, na verdade podem
atrapalhar a semente do desenvolvimento.

O que é um Drill?
Um Drill é um conjunto de movimentos sincronizados que simulam ações dentro de um jogo
de futebol americano. Isso parece ótimo, correto? Na verdade, não é. Se torna um problema
quando a percepção é que os jogadores na verdade estão desenvolvendo as habilidades
necessárias para jogar em alto nível.

Por que não Drills?
Realizar drills é o mesmo que memorizar as respostas de uma prova de matemática ao invés
de aprender como solucionar os problemas. Sempre existe alguém que que decora a tabuada,
porém, não consegue resolver um problema de palavras que salvaria a sua vida. Este é o
problema dos drills. Ele não te ensina a resolver os problemas, ele te dá as respostas.
Quantas vezes você já viu um atleta que desempenha muito acima da média nos drills, mas
não consegue jogar bem? Eu tenho certeza que já viu muitos. Drills não desenvolvem as
habilidades necessárias para uma performance excepcional, mas eles estabelecem o contexto
necessário desempenhar as habilidades que o atleta já desenvolveu.

“Drills nem sempre são transferidos, mas as habilidades sim” – Shawn Myszka

Porque Drills não Transferem?
Drills não transmitem a realidade pois o jogo na Linha Ofensiva é um ambiente altamente
estressante e está fundamentado nos princípios de movimento e os drills não conseguem
reproduzir isso. Antes de cada Snap, o sistema nervoso está processando uma quantidade
enorme de informações estressantes. Isso se dá ao fato de seu cérebro não estar acostumado
a jogar futebol americano. Isso requer muito esforço dele e ele não quer isso. Ele quer
basicamente três coisas: Comida, Procriar e nos manter fora de perigo. Nenhuma dessas três
coisas podem ser encontradas dentro de um campo de futebol americano.

Neste momento, o seu corpo se ativa. Em resumo, assim que o snap é dado, quem você
realmente é será revelado. Se o seu “verdadeiro eu” não estiver ligado ao seu sistema nervoso,
você vai funcionar no modo automático. Ou seja, você fará o que parece certo, e não o que é
certo de fato. Os padrões de movimento e atribuições de um atleta de linha ofensiva não são
naturais. Portanto, a fim de executar atos “não naturais” de forma natural, você precisa
condicionar o seu corpo para isso. Você precisa ser capaz de passar por cima dos seus
comportamentos instintivos para desempenhar acima da média baseado nas suas habilidades.
Todos nós sabemos identificar um bom “boxeador de sombra”, mas é quando o Mike Tyson
entra no ringue é que a verdade vem à tona.

Então, não devemos fazer Drills?
Você precisa fazer drills, entretanto, eles precisam ser aplicados em um ambiente apropriado e
com algum propósito. O ambiente mais apropriado para a realização de drills é quando sua
equipe está aprendendo ou instalando algum esquema. A verdadeira natureza de um drill é
ajudar os atletas a aprender e fixar esquemas de forma mais eficaz. Por exemplo, quando você
está trabalhando “deuce” blocks (no combo), o ritmo e o timing entre o tackle e o guard
precisam ser ajustados. Neste caso, um drill é oportuno.

Se você está tentando fazer com que o seu Center perca território dando um passo para trás
quando algum defensor alinha shade com ele, não é um drill que vai consertar isso. Na
verdade, não há nenhum drill no mundo que possa consertar isso pois este é um problema
baseado na habilidade dele. Problemas baseados em habilidades são mais complicados que
um drill pode alcançar e resolver. Você precisa vincular o atleta ao desempenho por meio da
aquisição de habilidades. Tudo isso é sobre a escolha da ferramenta correta para o trabalho.

“Ensinar o First Step é conscientizar o atleta. A partir daí, a orientação através da
conscientização gera confiança e maestria” – Dan Pfaff

Então, o que devemos fazer?
Aquisição de Habilidade é a resposta (SKAQ). É a habilidade que será transferida para dentro
de campo. Imagine que drills seja como jogar Call Of Duty e aquisição de habilidade seja como
o treinamento da marinha americana (Navy SEAL). Jogar Call Of Duty é legal. É um “jeito legal”
de ser um soldado. O treinamento da marinha americana não é legal. É intenso, determinado,
focado e necessário. É disso que se trata a aquisição de habilidades. É pegar algo complexo,
dividir em partes menores, diminuir a velocidade e aumentar o foco. Se você quer melhorar o
nível de habilidade, as coisas precisam ser feitas devagar, corretamente e com um alto grau de
foco. É a verdadeira função da qualidade sobre a quantidade.